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Antonio Caeiro e o coração criativo de Passagem de Mariana

​Por Cecília Caetano e Equipe Lugar Desenhado

 

Antonio Caeiro, o Toninho, tem um jeito tranquilo de falar, mas seus olhos brilham quando o assunto é Passagem de Mariana. Mineiro de alma, ele é aquela mistura rara de sonhador e realizador: enquanto dirige a Planeta Cultura e Sustentabilidade, também tece, dia após dia, os fios invisíveis que transformaram essa região no primeiro Distrito Criativo de Minas Gerais. "Aqui não se trata só de preservar o passado", diz, enquanto aponta para as ladeiras de Mariana, "mas de fazer da nossa identidade um trampolim para o futuro".

Imagine um lugar onde o cheiro de pão de queijo se mistura com os acordes de uma banda centenária, onde crianças aprendem circo na mesma rua em que mestres do Congado preservam tradições seculares. Essa é Passagem de Mariana – um território que pulsa arte por todos os lados. Em 2022, essa concepção de Distrito Criativo virou lei (a nº 3.570), mas na prática, como Toninho gosta de lembrar, "o distrito já existia na vida das pessoas muito antes do papel oficial".

O segredo, ele conta entre um café e outro, está nas conexões. "Não adianta ter um teatro aqui e um museu ali se eles não conversam", explica, lembrando das reuniões com artistas, comerciantes e moradores que deram vida ao projeto. Foi assim que nasceram os oito circuitos do distrito – da Cachoeira do Matadouro à Capela de Pedra –, cada um com sua voz, mas todos partilhando a mesma história.

Nos bastidores, Toninho e sua equipe trabalham como costureiros de sonhos: "Um dia é convencer o poder público, no outro é ouvir a Dona Maria que tem uma receita centenária e pode virar atração turística", ri. Seu orgulho maior? Ver o Circovolante levar alegria para praças cheias e o Clube Osquindô transformar oficinas em portas abertas para jovens artistas.

"Distrito Criativo não se faz com decreto, se faz com calo na mão", adora repetir. Os desafios são muitos – desde atrair investimentos até garantir que o turismo não apague a essência do lugar. Mas Toninho acredita no poder do coletivo: "Quando a meninada do Morro Santo Antônio começou a fazer grafite com histórias da mineração, entendi que estávamos no caminho certo".

Seu sonho? Que Mariana vire farol para outras cidades. "Temos ouro nas mãos, mas não aquele dos museus – o ouro vivo da nossa gente", diz, enquanto o sino da igreja badala no fundo. Nesse momento, fica claro: Toninho não está construindo um distrito, está cuidando de um organismo vivo, onde cada cantinho, cada tradição e cada novo projeto são células do mesmo corpo. E esse corpo dança – às vezes no ritmo do samba de raiz, outras no compasso das experimentações teatrais, mas sempre, sempre, no batimento cardíaco de quem faz de Passagem muito mais que um endereço: um lar criativo.

Fotografia: Jornal O Espeto

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