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Jujuba? Não, Jojoba!

​Por Matheus Camargos

 

Para o grande público: Jojoba. Fora de cena, simplesmente Jô. E assim se divide a vida da artista de raízes valadarenses, Josélia – filha da Elzi e do Gentil –, que descobriu Mariana através da arte,  apaixonou-se pela cidade e de lá  nunca mais saiu. Quem vê a Jô performando a divertida palhaça Jojoba, uma garotinha espoleta, nem imagina que se tornar artista não era o principal anseio na vida da palhaça. No auge da juventude, Josélia era uma aluna de Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Viçosa. Porém, insatisfeita com o curso, decidiu embarcar em um intercâmbio para a Inglaterra em busca de novas oportunidades. Após uma experiência culturalmente enriquecedora na Europa, Jô volta ao Brasil cheia de novidades e, em 1992, conhece um amigo que viria a se tornar seu parceiro de palco, o Xisto, que lhe apresentou o grupo artístico “Stronzo”. 

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Sendo a última a ingressar no grupo, para Jô aquilo foi um encantamento coletivo. “A gente, no alto dos 19 anos assim... A gente saía em turnê por três meses, saía vendendo [o espetáculo] e, na época, não tinha incentivo, não tinha nada! Só tinha a nossa cara lavada e nenhuma obrigação, né?”, conta ela, entre risos. Além de se encantar pelas possibilidades do teatro, ela também se apaixonou pelo Toninho, que na época era um dos três rapazes que compunham o extinto grupo “Stronzo”. Apaixonados, eles já somam mais de 30 anos dividindo a vida, os palcos e muitos trabalhos juntos. 

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Em turnê com o espetáculo Nas Nuvens, os quatro jovens que formavam o grupo, João, Xisto, Toninho e Jô chegam em Mariana em 1994 . Encantados pela Primaz de Minas, encontraram no distrito de Passagem motivos para ali permanecer e contribuir com a efervescente tradição cultural da comunidade que, recentemente, ganhou o título de Distrito Criativo pela Lei Municipal n° 3.570/2022, de 24 maio de 2022. Movidos pela paixão por fazer arte, estavam decididos a levar alegria e descontração para as crianças e jovens daquela região. 

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No início dos anos 2000 o grupo se rompeu, mas isso não foi um impedimento para que os jovens artistas continuassem o trabalho artístico cultural. Foi depois dessa ruptura, por sinal, que nasceram os grupos Circovolante e Osquindô. Com o Clube Osquindô, veio também a Osquindoteca – uma biblioteca com espaços culturais que atendem à comunidade local. Para a Jô, os livros se transformaram numa ponte importante de contato com a comunidade. “Essa relação com o livro pode ser um ponto de encontro com a comunidade.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Outro ponto importante estava no dom da arte da palhaçaria. Ela apareceu na vida de Josélia que, sem escapatória, abraçou de vez a missão de contagiar as crianças. “A Jojoba é o lugar onde me sinto mais à vontade... A gente recebe muita energia, e dá também”. A cada apresentação, Jojoba se torna a amiguinha descolada de uma meninada inocente que vê nela a companhia perfeita para aprontar as maiores estripulias possíveis. Quando o assunto é ser artista, não tem tempo ruim para a Jô. À frente do Espaço Lunática e do Clube Osquindô, ela se desdobra em várias, assumindo funções que vão desde o processo criativo dos espetáculos até a produção dos figurinos usados pela Jojoba. Na Banda Osquindô, para a alegria da plateia, ela também canta. “A banda tem esse componente a mais que é cantar, né, e eu não sou cantora, mas a banda foi encontrando esse movimento. Antes, cantar com o nariz da Jojoba era mais difícil, por causa da respiração. Hoje já consigo”, comemora.

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A Jojoba ganhou espaço de fato na vida da Jô no finalzinho dos anos 90, em uma oficina de teatro Antes disso, Jô performava outra personagem, a Batatinha – que acabou dando espaço à Jojoba de forma que os nomes de ambas ficassem mais próximos. Ainda hoje, para alguns, ela é Jujuba, para outros Jojoca, mas independentemente do apelido, o que importa é que, desde que a palhaçaria entrou em sua vida, Josélia se entrega de corpo e alma à arte de fazer rir e encantar. Cada risada arrancada por Jojoba é uma nota de felicidade na sinfonia da vida de Josélia, uma artista que encontrou sua voz mais autêntica nos palcos performando a Jojoba.

 

O que sustenta toda essa energia pela arte? O encontro. “Porque todas as coisas são feitas para que tudo se movimente e para que aquele momento aconteça”, explica ela, destacando a magia que toma conta dos encontros nas escolas, nas ruas e no teatro. A arte, na visão da Jô, é cheia de encantamentos. Ela se recorda, por exemplo, de um cortejo feito pela sua equipe há muitos anos, no município de Sabará, região metropolitana de Belo Horizonte. O grupo passava pela rua principal e as pessoas iam abrindo as janelas. Ela se lembra que, encerrado o cortejo, sentou-se na parte de trás do teatro e, após alguns minutos, sentiu um ar, um vento mais forte invadindo aquele espaço, um sopro diferente. “Era aquele ar no meu corpo e aquilo foi um momento de paz e agradecimento muito grande depois do cortejo... Uma experiência de transcendência.”

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Fotografia: Carolina Coelho / Converso Comunicação

Ilustração: Maria Cecília Quadros

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